A escravidão não acabou
Esse vídeo mostra como a escravidão permanece nos dias de hoje. Já vivenciei uma experiência parecida com que o vídeo mostrou.
Há um tempo, peguei algumas peças de roupas para bordar em uma pequena confecção de bordados em um local próximo onde moro. Eles pagavam por peça um valor muito baixo aproximadamente uns R$ 0,80 centavos por peça. Sendo que algumas eram muitos trabalhosas para fazer e não havia ensinamento do ofício, apenas apresentavam uma peça piloto como modelo para bordar as demais.
Fiquei bordando por pouco tempo, pois percebi que isso não dava lucro. Não tenho raiva disso, pois fui lá por livre e espontânea vontade. Muito pelo contrário, tenho gratidão por ter a oportunidade de ter aprendido a bordar e feito amizades. Apenas percebi que ser bordadeira com as condições oferecidas, não atendia minhas expectativas.
O que me ajudou a perceber que poderia conseguir um emprego com melhores condições, foi uma tia que é costureira. Ela não gosta de trabalhar para confecções pequenas, porque o salário é baixo e não tem benefício. Já trabalhou para grandes confecções onde é regularizado com todos direitos trabalhistas, porém atualmente ela não tem interesse em trabalhar dessa forma. Então montou seu próprio negócio e tornou-se autônoma, pois é mais vantajoso.
Ela tem clientes que são costureiras e que trabalham para pequenas confecções. Estas apesar de costurarem para oficina não sabem confeccionar suas próprias roupas ou consertá-las. Isso porque a produção de roupas é fragmentada e as costureiras não têm consciência do todo. Então elas só sabem costurar uma parte da roupa e não a inteira. Isso acaba prejudicando-as, pois se soubessem costurar a roupa inteira poderiam confeccionar e consertar suas próprias roupas, sem precisar pagar outra costureira para fazer um trabalho que elas deveriam saber.
É até estranho existir costureira que não sabe costurar, porém essas pequenas confecções acabam tornando a costura como um trabalho de produção fragmentada sem vínculo com todo no qual existem várias confecções onde cada uma é responsável por produzir uma parte da peça. Por exemplo, na confecção de camisas, uma determinada oficina fica responsável por costurar a gola, outra a manga e assim sucessivamente. O que acontece nesse caso é a mesma situação que é apresentada no filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin. O operário executa um trabalho repetitivo, sem entender o porquê o faz, pois o ofício dele é somente esse. Ele não tem conhecimento do todo, pois para a indústria isso não importa, o operário tem que saber apenas sua parte. Pode parecer uma atitude simples, porém não é, pois isso acaba alienando os operários, no caso das confecções as costureiras.
O ser humano preciso ser tratado como tal e não como máquina, ou animal. O ser humano tem consciência, vida e o trabalho é uma atividade que deve enobrecer o ser humano e não desumanizá-lo.
Porém, infelizmente o que tem ocorrido é justamente o oposto do significado real que o trabalho representa, ao invés de enobrecer aliena. Isso deve mudar, os trabalhadores devem ter a consciência de que seu trabalho é importante e não deve permitir ser explorado deixando que outra pessoa enriqueça ao custo do seu próprio esforço. Antes de ser um trabalhador é também um humano. Inclusive nos dias de hoje, isso é inaceitável. Existem leis trabalhistas já houve várias manifestações reivindicando o direito deles, dos quais muitos foram conquistados. E é isso mesmo que deve ocorrer com os trabalhadores, devem lutar pelos seus interesses, pois se eles mesmos não fizerem isso, quem irá lutar?
É lamentável em pleno século XXI existir escravidão no Brasil. Pelas leis isto é um ato inconstitucional. Porém, ele é permissível na realidade. Pela história a escravidão foi abolida com a Lei Áurea em 13 de Maio de 1888, porém existiram e ainda existe a escravidão após a promulgação dessa lei.
No final do século XIX, com o início da industrialização e o fim da escravidão, com as leis Eusébio de Queiroz que proibia o tráfico negreiro, a Lei do Ventre que libertava as crianças nascidas de pais escravos e a Lei dos Sexagenários que libertava os escravos com mais de 60 anos, começou a faltar mão de obra nas zonas em que se expandia a cultura cafeeira.
Nesse mesmo tempo, a população escrava envelhecia durante a segunda metade do século XIX sem que a reprodução natural da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão de obra nas lavouras que se expandiam.
Houve também a idéia de eugenia racial, o imaginário social e político, passou a considerar que os brasileiros eram incapazes de desenvolverem o país por serem em sua maioria negros e mestiços. Passaram a ter a política de imigração com o propósito de não apenas suprir a mão de obra necessária ou de colonizar territórios poucos ocupados, mas também para “branquear” a população brasileira. Neste projeto social, negros e mestiços iriam paulatinamente desaparecer da população brasileira por meio da miscigenação com a população de imigrantes europeus.
Dessa forma, iniciou-se a imigração de vários povos europeus para o Brasil; italianos, espanhóis, poloneses, entre outros. Entretanto, foram tratados como os antigos escravos, porém de forma diferente, pois o Brasil tinha leis, proibindo esse tipo de trabalho.
É interessante perceber que as condições de escravidão mudam conforme a época, cultura, povos, entre outros. Na Grécia, a escravidão tinha um significado. No Império de Gana tinha outro diferente do Brasil colônia e dos dias de hoje também. Entretanto sua essência permanece que é a exploração de trabalho e preconceito das pessoas que estão nessa condição.
Entretanto, a escravidão no sentido de servidão, humilhação conforme foi no Brasil colônia e pela forma que foi retratado no vídeo não é interessante, pois é desumano. Todavia, pode ser útil se fosse utilizada como forma de pagamento de uma dívida desde que não fosse cruel.
Não há um ser humano superior a outro. É inadmissível a subserviência de uma raça à outra, isso é injustificável. É um direito de todos serem livres.
Esse tipo de trabalho escravo não deve existir. Espero que, no futuro próximo, isso não exista mais.
Comentários
Postar um comentário